quarta-feira, 24 de maio de 2017

Segue abaixo um texto que escrevi sobre meu processo criativo


Metodologia do Diário da Misantropia

Esclarecimento inicial da proposta


O cinema é uma arte cara e envolve uma equipe de trabalho muito grande. Gerar um filme, longa ou curta metragem, costuma ser um processo muito longo e fazer isso com equipe reduzida te obriga a se adaptar à realidade que se possui. Essa foi a constatação que me fez optar por fazer filmagens utilizando apenas os recursos do meu telefone celular, um Iphone 6s. Dessa forma não conseguirei gerar arquivos de alta definição e nem utilizar recursos avançados para editar o material produzido.
A minha idéia inicial era de utilizar uma câmera GoPro 4Hero para captar as imagens, porém nos testes iniciais que fiz percebi que a câmera GoPro não captava a variação de cores no céu que eu escolhi como ideal para a fotografia do meu projeto. A câmera do celular é mais adaptável às variações de luz e cor, apesar de não gerar imagens com uma resolução melhor.
A câmera do meu celular também me oferece recursos estéticos interessantes que comecei a utilizar nos vídeos como a Câmera Lenta e Time Lapse. Dessa forma consigo construir mais tensões e resoluções apenas com imagens.
Além da limitação técnica descrita eu me deparei com a minha própria imagem de filmando e editando os filmes no meu celular. Uma ação solitária que metaforicamente simboliza o “homem moderno” aprisionado em um mundo virtual coletivo e vivendo o mundo físico na solidão. No caso do personagem uma solidão provocada pela misantropia.


Fotografia e Filmagens


Recursos utilizados:
-Câmera do Celular: captação de imagens e som ambiente
-Aplicativo e Rede Social “Instagram”: A rede social oferece um banco de filtros para obter uma coloração diferenciada tanto para vídeos como para fotos. Utilizo esse recurso oferecido pela rede social para tratar as imagens e a partir disso consigo uma mesma estética visual.
-Aplicativo Splice: Este aplicativo permite que eu edite os vídeos que faço no celular e oferece recursos simples de edição como transições entre imagens. O aplicativo também oferece um banco de dados de sons ambientes para fazer um Sound Design do vídeo. O ponto fraco do aplicativo é que eu não posso inserir uma trilha gravada em outra plataforma e, por isso, tive que adaptar as gravações. Por enquanto, eu consigo fazer uma sobreposição de gravações salvando um vídeo com som definido e inserindo esse vídeo na linha de tempo do Splice, porém não consigo ouvir o som já gravado para que eu possa ter uma precisão musical nessa sobreposição de áudios. Farei mais testes para aprimorar essa parte.


Estética dos vídeos:
Utilizar as redes sociais como ferramenta e estética dos filmes simplificou a minha execução e cria uma linguagem cinematográfica rústica e contemporânea. A estética dos vídeos que estou produzindo pode ser definida como “Fotos do Instagram em Movimento”. É válido lembrar que fotos e vídeos de paisagens e selfies são conteúdos comuns nessa rede social.
A seleção de imagens que faço tem como base o pensamento de paradoxos e contradições que Heráclito apresenta em vários de seus fragmentos. Eu procuro captar imagens que remetam ao sublime e também imagens que remetam ao decadente. Na edição dos vídeos eu crio uma tensão dramatúrgica colocando lado a lado essas imagens opostas e a trilha sonora vem como suporte para os conflitos entre as imagens.
Para o projeto eu percebi a repetição de alguns padrões na captação de imagens que me agradaram e que pretendo repetir.
-Filmar paisagens com câmera quase parada.
-Dar closes em objetos de forma que descaracterizem o próprio objeto.
-Fazer panorâmicas com a câmera em movimento
-Utilizar o recurso de Câmera lenta para dramatizar um movimento ou, para captar lentamente a alteração de foco e luz em uma imagem estática.
-Utilizar o recurso de Time Lapse para acelerar a passagem do tempo de algumas cenas


Trilha Sonora


Trilha sonora em escala no modo Lídio. Esse modo musical faz referência à região em que Heráclito viveu e é uma escala que apresenta muitas possibilidades de explorar tensões e resoluções harmônicas. A escala possui intervalos consoantes como 3ª Maior, 6ª Maior e 5ª Justa, porém possui as dissonâncias fortes de intervalos dá 4ª aumentada e 7ª Maior.
No inicio dos testes para o projeto eu já estava disposto a evoluir nas minhas pesquisas de criar arranjos para Baixo utilizando técnicas de cordas soltas, acordes e harmônicos.  Num dos primeiros testes eu fiz uma descoberta interessante da afinação alternativa para o Baixo. Na trilha sonora do projeto estou afinando o instrumento em “Ré Maior aberto”. Essa afinação altera duas cordas da afinação padrão que é EADG, na afinação que estou utilizando o instrumento fica afinado da seguinte forma: DADF#.
A afinação em Ré Maior Aberto me permite uma ampliação de possibilidades para explorar o modo Lídio utilizando mais cordas soltas no meu instrumento. Além de poder fazer mais acordes e utilizar mais os harmônicos simples do instrumento, podendo até fazer acordes de harmônicos.
As composições que estão sendo apresentadas partem de improvisos e depois há uma seleção de freses melódicas que se encaixam com as imagens filmadas. Por uma questão de recursos limitados a música se adapta à imagem. O processo contrário seria mais complexo de se realizar tendo em vista que para as gravações de áudio não tenho em mãos muitos recursos.


Concepção do personagem:


Uso roupa toda preta com paletó, chapéu, luvas e um lenço tampando nariz e boca. Referências que misturam imagens de mafioso, black block e palhaço. A idéia é dar um ar Soturno para o personagem que protagoniza os vídeos e achei interessante a idéia de não mostrar o rosto para criar uma áurea de mistério.

A maioria dos acessórios utilizados no figurino faz parte do meu acervo pessoal e essa combinação de peças é fruto de um processo meu de identidade visual que desenvolvo para apresentações musicais.   

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