Segue abaixo um texto que escrevi sobre meu processo criativo
Metodologia do Diário
da Misantropia
Esclarecimento
inicial da proposta
O cinema é uma arte cara
e envolve uma equipe de trabalho muito grande. Gerar um filme, longa ou curta
metragem, costuma ser um processo muito longo e fazer isso com equipe reduzida
te obriga a se adaptar à realidade que se possui. Essa foi a constatação que me
fez optar por fazer filmagens utilizando apenas os recursos do meu telefone
celular, um Iphone 6s. Dessa forma não conseguirei gerar arquivos de alta
definição e nem utilizar recursos avançados para editar o material produzido.
A minha idéia inicial
era de utilizar uma câmera GoPro 4Hero para captar as imagens, porém nos testes
iniciais que fiz percebi que a câmera GoPro não captava a variação de cores no céu
que eu escolhi como ideal para a fotografia do meu projeto. A câmera do celular
é mais adaptável às variações de luz e cor, apesar de não gerar imagens com uma
resolução melhor.
A câmera do meu celular
também me oferece recursos estéticos interessantes que comecei a utilizar nos
vídeos como a Câmera Lenta e Time Lapse. Dessa forma consigo construir mais
tensões e resoluções apenas com imagens.
Além da limitação
técnica descrita eu me deparei com a minha própria imagem de filmando e
editando os filmes no meu celular. Uma ação solitária que metaforicamente
simboliza o “homem moderno” aprisionado em um mundo virtual coletivo e vivendo o
mundo físico na solidão. No caso do personagem uma solidão provocada pela
misantropia.
Fotografia
e Filmagens
Recursos utilizados:
-Câmera do Celular:
captação de imagens e som ambiente
-Aplicativo e Rede
Social “Instagram”: A rede social oferece um banco de filtros para obter uma
coloração diferenciada tanto para vídeos como para fotos. Utilizo esse recurso oferecido
pela rede social para tratar as imagens e a partir disso consigo uma mesma
estética visual.
-Aplicativo Splice:
Este aplicativo permite que eu edite os vídeos que faço no celular e oferece
recursos simples de edição como transições entre imagens. O aplicativo também
oferece um banco de dados de sons ambientes para fazer um Sound Design do
vídeo. O ponto fraco do aplicativo é que eu não posso inserir uma trilha
gravada em outra plataforma e, por isso, tive que adaptar as gravações. Por
enquanto, eu consigo fazer uma sobreposição de gravações salvando um vídeo com
som definido e inserindo esse vídeo na linha de tempo do Splice, porém não
consigo ouvir o som já gravado para que eu possa ter uma precisão musical nessa
sobreposição de áudios. Farei mais testes para aprimorar essa parte.
Estética dos vídeos:
Utilizar as redes
sociais como ferramenta e estética dos filmes simplificou a minha execução e
cria uma linguagem cinematográfica rústica e contemporânea. A estética dos vídeos
que estou produzindo pode ser definida como “Fotos do Instagram em Movimento”. É
válido lembrar que fotos e vídeos de paisagens e selfies são conteúdos comuns
nessa rede social.
A seleção de imagens que
faço tem como base o pensamento de paradoxos e contradições que Heráclito
apresenta em vários de seus fragmentos. Eu procuro captar imagens que remetam
ao sublime e também imagens que remetam ao decadente. Na edição dos vídeos eu
crio uma tensão dramatúrgica colocando lado a lado essas imagens opostas e a
trilha sonora vem como suporte para os conflitos entre as imagens.
Para o projeto eu
percebi a repetição de alguns padrões na captação de imagens que me agradaram e
que pretendo repetir.
-Filmar paisagens com
câmera quase parada.
-Dar closes em objetos
de forma que descaracterizem o próprio objeto.
-Fazer panorâmicas com
a câmera em movimento
-Utilizar o recurso de
Câmera lenta para dramatizar um movimento ou, para captar lentamente a
alteração de foco e luz em uma imagem estática.
-Utilizar o recurso de
Time Lapse para acelerar a passagem do tempo de algumas cenas
Trilha
Sonora
Trilha sonora em escala
no modo Lídio. Esse modo musical faz referência à região em que Heráclito viveu
e é uma escala que apresenta muitas possibilidades de explorar tensões e resoluções
harmônicas. A escala possui intervalos consoantes como 3ª Maior, 6ª Maior e 5ª
Justa, porém possui as dissonâncias fortes de intervalos dá 4ª aumentada e 7ª
Maior.
No inicio dos testes
para o projeto eu já estava disposto a evoluir nas minhas pesquisas de criar
arranjos para Baixo utilizando técnicas de cordas soltas, acordes e harmônicos. Num dos primeiros testes eu fiz uma descoberta
interessante da afinação alternativa para o Baixo. Na trilha sonora do projeto
estou afinando o instrumento em “Ré Maior aberto”. Essa afinação altera duas
cordas da afinação padrão que é EADG, na afinação que estou utilizando o
instrumento fica afinado da seguinte forma: DADF#.
A afinação em Ré Maior
Aberto me permite uma ampliação de possibilidades para explorar o modo Lídio
utilizando mais cordas soltas no meu instrumento. Além de poder fazer mais acordes
e utilizar mais os harmônicos simples do instrumento, podendo até fazer acordes
de harmônicos.
As composições que
estão sendo apresentadas partem de improvisos e depois há uma seleção de freses
melódicas que se encaixam com as imagens filmadas. Por uma questão de recursos
limitados a música se adapta à imagem. O processo contrário seria mais complexo
de se realizar tendo em vista que para as gravações de áudio não tenho em mãos
muitos recursos.
Concepção
do personagem:
Uso roupa toda preta
com paletó, chapéu, luvas e um lenço tampando nariz e boca. Referências que
misturam imagens de mafioso, black block e palhaço. A idéia é dar um ar Soturno
para o personagem que protagoniza os vídeos e achei interessante a idéia de não
mostrar o rosto para criar uma áurea de mistério.
A maioria dos
acessórios utilizados no figurino faz parte do meu acervo pessoal e essa
combinação de peças é fruto de um processo meu de identidade visual que
desenvolvo para apresentações musicais.