domingo, 23 de abril de 2017

Experimentações I a partir do frag.60

60. O caminho para cima e o caminho para baixo são um e o mesmo. (CIII)

Link para vídeo deste estudo:


Este fragmento pode ser interpretado tanto da forma elemental quanto da forma psicológica. Em ambos os casos, tomando a ascenção como resultante da relação com o fogo (fogo elemento e fogo no sentido espiritual ), o caminho inverso seria voltar à terra, ou seja, ceder à força da gravidade. (gravidade como força oculta que age em nós e como condição humana que nos traz à terra, à nossa finitude biológica)

Podemos estabelecer algumas relações da atuação da gravidade no corpo e nas árvores do cerrado. Para que o corpo se estabeleça em equilíbrio na posição ereta, é necessário um enorme jogo de forças internas que atuam em oposição à força externa da gravidade. Estas forças opostas buscam constantemente s equilibrar em torno de um mesmo eixo, criando uma espécie de espiral interna, que ajuda  a manter a massa corporal  ao redor do eixo axial.

Quando o corpo não está em harmonia com a atuação da gravidade em sua estrutura, aparecem alguns “entortamentos” corporais, em especial na coluna. Nestes locais “entortados” criam-se tensões e, com o tempo, enrijecimento. Estas curvas enrijecidas podem chegar a ter impacto em camadas psicológicas nos indivíduos.

As curvas características das árvores do cerrado podem ser entendidas como enrijecimentos circunstanciais, e podem também servir de pesquisa para a performance corporal.

Sem se desfazer destas curvas, destas dificuldades, e reestabelecer um novo equilíbrio, exigirá do corpo a busca por um novo eixo gravitacional. A gravidade continua constante, mas a relação com o corpo, modificado em curvas, muda. Perceber essa mudança e agir de acordo, seria uma tentativa de reintegração ao ambiente, assim como as árvores do cerrado o fazem depois de atingidas pelo fogo: fortalecem-se e criam novas estruturas para seguirem em busca do sol (fogo). E é na sua imperfeição, no seu tronco grosso, áspero e torto que sua beleza se realiza.

Para experimentar este fragmento, foi feito um vídeo onde aparecem, ao mesmo tempo, a performance acontecendo da forma real e sua imagem invertida (do início ao começo, em tempo reverso). Assim, na esquerda a performance se desenvolve numa ascenção do corpo e, na direita, o corpo segue em caminho descendente. Por ser a mesma imagem , podemos apreciar o corpo realizando exatamente o mesmo caminho para cima e para baixo.

A partir deste experimento, foram observados algumas tensões que ocorrem na musculatura, gerando linhas de tensões ora convergentes ora divergentes, servindo de estímulo criativo para a continuação do processo criativo em questão. A ideia inicial é realizar um roteiro de tensões a serem percorridas pelo corpo durante a performance, num ciclo de tensões que será elaborado a partir destes e de outros experimentos.

Nas imagens abaixo, retiradas do vídeo da performance, as linhas pretendem, além de mostrar a oposição e  a harmonia geométrica das formas, evidenciar as nuances de tensão que atuam no corpo durante a performance











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