quinta-feira, 16 de março de 2017

NOVA ORIENTAÇÃO !!! IMPORTANTE!!!

Bem, pensando depois de ontem, e com a entrada de novos alunos, decidi fazer uma coisa comum em teatro: leitura dramática.
Então, vamos ler em ordem os fragmentos . Todos!!!

Para tanto, primeiro tentem ler sem encontrar links ou explicações de conteúdo ou formais. Se tiverem dúvidas sobre o conteúdo ou sobre a língua usem dicionários e comentários indicados. Mas a ênfase agora é na familiadade com os fragmentos e seus números da edição Diels-Kranz.
Depois de ler os 126 fragmentos ( hoje há outras listas com mais, mas vamos nos ater a este número), procurei separá-los, unir os fragmentos em grupos temáticos. Muitos desses grupos podem se sobrepor.
Para a próxima aula vamos fazer isso: na primeira metade vamos ler os fragmentos.
Na segunda metade da aula iniciar as impressões pós leitura.

Não queria antecipar ou orientar a intepretação aural dos fragmentos sem antes todos termos lido todos os fragmentos. Mesmo que mais de uma vez.




Para ler os fragmentos, veja a edição de Costa já indicada.
 Há outra online:

a- a de José Cavalcante de Souza
 http://mkmouse.com.br/livros/Fragmentos-de-Her%C3%A1clito-de-%C3%89feso.pdf.

b. e a de  Eudoro de Souza em Filosofia grega ( Edição que realizei e foi publicada pela editora UnB,2013).

Fragmentos

1. Este Logos sendo (como o enuncio?) sempre o não entendem os homens, quer antes de o haverem escutado, quer após o terem ouvido. Pois, ainda que tudo suceda em conformidade com este Logos, inexpertos parecem, mesmo que experimentem palavras e ações, tal como eu as exponho, distinguindo a natureza de cada uma delas e explicando-a tal qual é. Os demais homens, porém, tão pouco sabem o que fazem despertos, quão pouco se lembram do que fizeram dormindo.

2. Por isso convém seguir o comum. Mas, ainda que o Logos seja comum, vive a multidão como se tivesse pensamento próprio.

3. (Da grandeza do sol:) é da largura de um pé.

4. Se a felicidade estivesse nos deleites do corpo, diríamos felizes os bois quando encontram legumes para comer.

5. Com outro sangue se purificam (do sangue derramado), como quem, maculado de lama, com (outra) lama fosse lavar-se. Louco havia de parecer, se algum de entre os homens assim os visse proceder. Também oram às imagens como quem se entretivesse falando às casas: não sabem o que são deuses nem heróis!

6. (Sol:) novo em cada dia.

7. Se todas as coisas “virassem” fumo, pelo nariz as distinguiríamos.

8. Os contrários conferem e dos diferentes nasce a mais bela harmonia (e o Prélio tudo origina).

9. ...os asnos prefeririam a palha ao ouro.

10. Conexões: completos e incompletos, concordante e discordante, consonante e dissonante; de todos, um; de um, todos.

11. Tudo o que rasteja o flagelo (de Deus?) o guarda.

12. Outras e outras águas correm para quem desce aos mesmos rios. (Mas também as almas são exalações do úmido?).

13. ...pois os porcos mais gostosamente chafurdam no esterco do que na água pura.

14. (A quem profetiza Heráclito?) Notívagos, magos, bacantes e “mistas” (que) impiamente se iniciam nos mistérios entre os homens celebrados.

15. Não fosse por Dioniso que a pompa celebram e entoam os hinos fálicos, impudentíssima ação seria. Porém, o mesmo é Hades e Dioniso, |o deus| que os enlouquece e pelo que festejam as Leneias.

16. Como poderia ocultar-se alguém do (fogo) que não tem ocaso?

17. Muitos não compreendem o que se lhes depara, nem o reconhecem depois de o aprenderem, mas imaginam que sim.

18. Quem não espera o inesperado não o achará; que esse é inexplorável e inacessível.

19. Não sabem escutar nem falar.

20. Nascidos, querem viver e morrer sua morte, ou antes, fruir do repouso; e deixam filhos que a sorte mortal terão de sofrer.

21. Morte é quanto vemos despertos, e quanto vemos dormindo é sono (mas o que vemos na morte é vida?).

22. Os pesquisadores de ouro revolvem muita terra mas encontram pouco.

23. O nome Dikē ignorá-lo-íamos se não fossem tais coisas (contrários?).

24. Deuses e homens honram os que morreram na guerra.

25. Cabe a melhor sorte aos que tiveram a melhor morte.

26. (a) Acende o homem, de noite, uma luz para si, quando a luz de seus olhos se extinguiu. Vivo e dormindo, adere ao morto; desperto, ao dormente.
(b) O homem toca a luz na noite, quando morreu para si, a vista extinta, mas, vivente, toca no morto, quando dorme, a vista extinta; toca no dormente, quando vigila.
(c) O homem, de noite, acende (por contato) uma luz, quando seus olhos se apagaram. Vivendo, no sono toca no morto (no sono, ele é, por assim dizer, um morto aceso), vigilante, toca no dormente (é um dormente aceso).

27. Depois da morte, o que aguarda os homens, não esperam nem imaginam eles.

28. (Provavelmente, dois fragmentos reunidos em um só (Marcowich)):[1]
(a) Pois de opinião não passa, até aquilo que o homem mais digno de crédito conhece e mantém.
(b) A Justiça (Dikē) se apoderará dos forjadores e atestadores de mentiras.

29. Uma coisa os melhores preferem a todas: a glória imortal às coisas transitórias. A turba, essa, repasta-se como o gado.

30. Este Kósmos (que é o mesmo para todos) nem deus nem homem algum o fez; sempre foi é e será um fogo continuamente vivo, que se alumia por medida e por medida se apaga.

31. (Talvez constitua, com o precedente, um só fragmento): “viragens” do fogo: primeiro, o mar; e do mar, metade terra e metade turbilhão ígneo. – (a terra) derrama-se, qual mar, à medida tal, qual era a de antes que este se tornasse em terra.

32. Só um − o sábio único − quer e não quer ser chamado pelo nome de Zeus.

33. Também é lei obedecer à vontade de um só.

34. Os tolos, ainda que ouçam, surdos parecem. Deles testemunha o provérbio: “Presentes, estão ausentes”.

35. Os homens amantes da sabedoria têm, na verdade, de aprender muita coisa.

36. Morte das almas; tornarem-se água; morte da água: volver-se em terra. Mas da terra (re)nasce água; e da água, alma.

37. Os porcos lavam-se em lama; as aves domésticas, em poeira ou cinza.

40. A muita ciência não ensina a ser inteligente. Pelo menos, não o ensinou a Hesíodo e Pitágoras, e depois, a Xenófanes e Hecateu.

41. Sábio é uma coisa, e só (esta): entender como tudo é governado por meio de tudo.

42. Bem merecia Homero que o expulsassem dos certames, e Arquíloco igualmente.

43. Mais importa extinguir a insolência do que o incêndio.

44. O povo tem de lutar pela lei como pelas muralhas (da cidade).

45. Os confins da alma não acharias, nem que percorresses todos os caminhos; tão profundo logos ela tem.

46. (Talvez dois fragmentos, sendo suspeito o primeiro, e o segundo, decorrente do 107 (Marcowich)) Presunção: doença sagrada (epilepsia), e a vista: falácia.

47. Das coisas supremas, não ajuizemos ao acaso.

48. O nome do arco (biós) é vida (bíos); morte, porém, é sua obra.

49. Se há um que é o melhor, esse, para mim, vale dez mil (uma multidão).

50. Se escutastes, não a mim, mas ao logos, sábio é concordar que tudo é um.

51. Não entendem como, discordando, consigo concorda: reversa harmonia, como a do arco e da lira.

52. Evo (tempo) é como criança jogando os dados: de criança é o reinado.

53. Prélio é o pai de todas as coisas; de todas, o rei. A uns designou como deuses, a outros, como homens; destes fez escravos, e daqueles homens livres.

54. A harmonia invisível supera a visível.

55. De quanto haja visão, audição, aprendizado, eu prefiro.

56. Iludidos estão os homens, no que tange as coisas visíveis, como Homero, que foi o mais sábio dos gregos, pois enganaram-no umas crianças que matavam piolhos, dizendo: “O que vimos e pegamos, deixamos; o que não vimos nem pegamos, trazemos”.

57. Hesíodo é mestre de toda a gente; julgam que muitas coisas soubesse, ele que não conhecia nem a noite nem o dia: pois são uma e a mesma coisa (Diels-Kranz).

Hesíodo é mestre de toda a gente; julgam que muitas coisas soubesse, ele que não conhecia nem a noite nem o dia: pois é (há ou existe) o Um (Eugen Fink).[2]

58. Os médicos... cortando, queimando, torturando os doentes de toda a maneira, ainda exigem deles honorários que não merecem, pois só conseguiram o mesmo efeito: bens (cura) e males (doenças).

59. O caminho reto e curvo da carda da cardadeira é um e o mesmo.

60. O caminho para cima e o caminho para baixo são um e o mesmo.

61. A água do mar é a mais pura e a mais corrupta. Para os peixes, potável e salubre; para os homens, intragável e mortífera.

62. Imortais mortais, mortais imortais; vivendo a morte daqueles, daqueles a vida morrendo.

63. Diante dele, ali presente, erguem-se e convertem-se em vigilantes guardiães de vivos e mortos.

64. O raio tudo governa.

65. (Deus? O fogo? É) carência e saciedade.

66. Sobrevindo, o fogo tudo julgará (apartará?) e apresará.

67. O (esse a que me refiro) Deus é dia noite, inverno verão, guerra paz, carência saciedade; muda, porém, como (o fogo) misturado a essências perfumadas: denomina-se segundo o aroma de cada uma.

68. Remédios (é o que Heráclito diz dos “mistérios”).

69. (Dos sacrifícios distingo duas espécies: os dos homens inteiramente purificados) como poderia ocorrer talvez a um só, e raramente (... ou a poucos homens, fáceis de contar).

70. (As opiniões dos homens): jogos de criança (talvez apenas alusão ao frg. 79, segundo Marcowich).

71. (É preciso também lembrar) aquele que esquece aonde o caminho leva.

72. Do logos, com o qual se encontram em tão estreita relação, discordam eles (segundo Marcowich, só as precedentes palavras são autênticas; o mais é paráfrase do frg. 17:) e o que dia a dia se lhes depara, estranho lhes parece.

73. Importa não agir e falar como dormentes.

74. Também é preciso não proceder como “filhos de família” (segundo a tradição ou a rotina?).

75. Os dormentes são (só) artífices e cooperadores do que sucede no kósmos (talvez apenas reminiscência do final do frg. 1, segundo Marcowich).

76. (a) Vive o fogo a morte da terra; e o ar, a morte do fogo; a água vive a morte do ar; e a terra, a da água.
(b) Morte do fogo, o nascimento do ar.
(c) Porque morte da terra é o nascimento da água, e a morte da água, nascimento do ar, e do ar, o fogo, e assim por diante.

77. Prazer (ou morte?) das almas é o tornarem-se úmidas... Nós vivemos a morte delas, e elas, a nossa morte.

78. A humana índole não tem conhecimentos; a divina, tem-nos.

79. Infantil é o homem chamado, diante da divindade, assim como a criança, diante do homem.

80. Importa saber que o prélio é comum, e que justiça é discórdia, e que tudo sucede por discórdia e necessidade.

81. (Pitágoras): o príncipe dos charlatões.

82. O mais belo dos símios é feio, comparado com a estirpe dos homens.

83. O mais sábio dos homens, comparado com um deus, parecerá um símio em sabedoria, beleza e tudo o mais.

84. (a) Transformando-se, repousa.
(b) Penoso é trabalhar e ser governado pelos mesmos senhores? princípios?

85. Árduo é lutar contra a ira, pois o que ela quer compra-se a preço da alma.

86. (O que é divino) escapa à compreensão, à míngua de fé.

87. A cada palavra, o tolo gosta que o firam de espanto.

88. (Em nós?) o mesmo (é) vivo e morto, vigilante e dormente, jovem e velho. Estes, “virados”, são aqueles; e aqueles, “revirados” são estes.

89. Os que vigilam têm um kósmos comum a todos, mas os que dormem volvem-se, cada um, para seu próprio (segundo Marcowich, também seria autêntica a segunda parte “Mas os que dormem... para o seu próprio”).

90. Tudo se troca por fogo, e fogo por tudo; como por ouro, mercadorias, e mercadorias, por ouro.

91. Não se pode descer duas vezes no mesmo rio... aflui e reflui... avança e retrocede (segundo Marcowich não é mais do que a versão aristotélica de frg. 12: Metaph. III 5, 1010 a 1013; isso se dá com o frg. 49a (que não reproduzimos)).

92. A sibila (que) solta da boca delirante palavra sem riso, sem atavio e sem aroma (mil anos trespassa com sua voz, por obra do deus).

93. O soberano, cujo oráculo está em Delfos, não diz nem cala; dá sinais.

94. Hélio não transporá suas medidas; de contrário, as Erínias que a Dikē assistem, irão achá-lo.

95. Mais vale ocultar a ignorância.

96. Mais que excrementos, são de repelir os cadáveres.

97. Os cães ladram às pessoas que não conhecem.

98. As almas no Hades aspiram odores.

99. Se não fosse o sol, (só pelas demais estrelas) seria noite.

100. (A volta?) de tudo o que as horas trazem.

101. Indaguei-me a mim próprio.
101a. Mais rigorosas testemunhas são os olhos, do que os ouvidos.
101b. = A 23

102. Para o deus, todas as coisas são belas, (boas?) e justas, mas para os homens umas são tidas por injustas, outras por justas.

103. Pois comum é o início e o término na circunferência de um círculo.

104. Que mente e intelecto é o deles? Creem em poetas errantes e por mestre têm a multidão (o vulgo): não sabem que “os muitos são maus e poucos os bons”.

106. (Acerca dos dias nefastos, se é necessário estabelecer que o sejam ou se Heráclito não incorretamente censurou Hesíodo por fazer de uns fastos e outros nefastos), ignorando que una é a natureza de cada dia, (em outro lugar se pôs o problema). (Contra Kirk, Cosmic Fragments, p. 157 ss., Marcovich afirma que este não se relaciona com o frg. 57).

107. Más testemunhas os olhos e os ouvidos, para homens com alma de bárbaros.

108. Nenhum, de entre aqueles cujo discorrer ouvi, chegou a isto: reconhecer que o sábio (neutro: “coisa sábia”) de tudo o mais está separado (kekhorisménon = ab-solutum, Snell[3]).

110. Melhor seria que aos homens não sucedesse o que desejam.

111. A doença torna grata e boa a saúde; a fome, a saciedade; a fadiga, o repouso.

112. Sabedoria é suprema virtude, e saber consiste em dizer a verdade e agir conforme a natureza, escutando-a (falsificação tardia, segundo Marcovich).

113. Comum (a todos) é a inteligência (tō phronein) (segundo Marcovich, seria apócrifo − extraído do frg. 2).

114. Os que falam com inteligência devem tornar-se fortes com o (logos) comum a todos, como uma cidade com a lei, e ainda mais fortes; porque todas as leis humanas se nutrem de uma só, divina, podendo quanto quer, em tudo bastando, tudo excedendo.

115. É próprio da alma um logos que cresce por si (suspeito, segundo Marcovich).

116. A todos os homens foi dado o conhecerem-se a si mesmos e o sãmente pensar (segundo Marcovich, extraído do frg. 101 e 102).

117. Um homem embriagado é conduzido por uma criancinha; vai cambaleante, sem saber por onde: é que sua alma está úmida.

118. Alma seca: a mais sábia e melhor.

119. Para cada homem a própria índole é o seu daímōn.

120. Limites de aurora e crepúsculo, a Ursa, e à Ursa oposto, o limite de Zeus fulgurante.

121. Bem fariam os efésios, se todos, homem por homem, se enforcassem e a cidade abandonassem aos imberbes − eles que baniram Hermodoro, o mais generoso dos varões, dizendo-lhe: “Entre nós não queremos nenhum homem de valor, mas se algum houver, que vá para outro lugar, juntar-se a outros!”.

123. A natureza (phýsis) quer (philei) ocultar-se.

124. O kósmos mais belo (e mais perfeito): um informe amontoado de dejetos (coisas jogadas ao acaso).

125. Até o Kikéon se decompõe se o não agitarem.[4]
125a. Que a riqueza nunca vos falte, é efésios, para que convictos sejais da vossa maldade!

126. O (que é) frio aquece, o quente arrefece, o úmido seca, o seco umedece.



[1] Referência à Herakleitos, RE Suppl. X (1965, cols. 246-320, de M. Marcovich.
[2] Referência a discussão em Heráclite. Séminarie du semestre d'hiver 1966-1967 (Paris: Gallimard, 1973), de E. Fink com M. Heidegger.
[3] Referência à edição dos fragmentos de Heráclito realizada por B. Snell: Die Fragmente des Heraklit (Munique: Heimeran,1944).
[4] Bebida cuja composição era uma mistura de ingredientes tais como cevada, água, mel, vinho, queijo, hortelã, ervas, entre outros.

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